As vezes ela ficava assim: Pensativa, com seu cigarro de palha na boca.
Uma tristeza tão grande lhe invade a alma.
Acha que está com vontade de chorar. Mas não sabe fazer isso.
A única vez que se lembra de ter chorado, foi quando os meninos se foram.
Uma vez lhe perguntaram, e ela não soube responder.
Porquê ela ria tanto? Não sabia. Só o que sabia, é que vivia com aquela boca, sem nenhum dente, rindo, sempre rindo.
Sabia que motivos não tinha, mas, por acaso, alguém precisava de motivos para rir?
A vida De Paulina sempre foi muito dura, mas isso era a vontade de Deus. Tudo era a vontade de Deus.
Até mesmo, quando Elias, seu primeiro filho, com dezenove anos, naquele dia de muito frio, saiu de casa, ainda escuro, de madrugada para pescar. Era seu trabalho.
Com um pedaço de cobertor velho enrolado no pescoço, para se proteger da geada que vinha com certeza.
Foi por causa do frio. O motor do barco falhou. Ele se abaixou para puxar a manivela.
Mas o pedaço de cobertor se desenrolou de seu pescoço. E aí, o maldito cobertou foi puxado por aquele negócio, que ela nem sabe o nome, que tem no motor.
E não teve jeito. Elias morreu asfixiado, ou como ela mesmo diz: enforcado.
Aí sim, chorou, porque doeu, doeu mais que vai doer sua própria morte. Ela sabe disso.
Chorou todas as lágrimas que seu corpo guardou a vida toda.
Chorou tanto, que não sobrou quase nada de lágrimas para o dia seguinte.
Enterrou Elias, no final do dia, e pela manhã do dia seguinte, Angélica, a sua caçulinha de apenas dez meses, amanheceu morta no berço.
O doutor disse que foi do coração, mas ela sabe que foi Elias que veio buscá-la. Ele adorava a irmãzinha.
Sobraram os cinco filhos do meio.
As duas meninas mais velhas, foram para o convento.
Disseram que queriam estudar. Mas ela acha, que o que elas queriam mesmo era fugir da miséria.
Luzia, escreveu esses dias. Disse que está estudando piano.
Ela não sabe o que é um piano, mas acha que deve ser coisa boa.
O Dito foi tirar madeira na outra fazenda do patrão. Passava as semanas por lá. Este era seu trabalho.
E ela ficava ali assim, por horas e horas, pitando seu cigarrinho, olhando para aquele rio imenso e tão poderoso. Tão poderoso que lhe levou o filho. Levou e não devolveu.
O peito doía, mas chorar não sabia.
Sabia rir, e era o que fazia, quando olhava para alguém.
Ainda hoje, agora com oitenta e dois anos, Paulina mora perto do mesmo rio.
Ainda desce para olhar as águas, para contemplar a imensidão das águas, e deixar sua saudade vir à tona.
O Dito também partiu, há vinte anos, foi encontrar os filhos.
Os outros se casaram, foram cuidar de suas vidas.
E ela não deixou de rir e de fumar seu cigarro de palha.
Amanhã dia 04/03, Olivia, nosso anjo, faria vinte e cinco anos se conosco ainda estivesse.
Seja feliz minha filha, onde estiver.
Como anjo que é, merece ser feliz.
Queridos, agora sim, tudo ok com a PIER, está funcionando normal, e agora 24hs no ar.
Fique conosco. Da PIER, todo mundo gosta.
5 comentários:
Não abriu o haloscan!
Este post é um bom início para um teu livro de crónicas...lamento qt a Olívia..um bj grande no teu coração.:)
Só passei pra dar um alô, tentando por em dia a leitura. Gostei do texto. Pra sobreviver é preciso não deixar de rir. Já o cigarrinho de palha pode até ser substituido por um outro vício inofensivo qq, como ter um blog...
Só passei pra dar um alô, tentando por em dia a leitura. Gostei do texto. Pra sobreviver é preciso não deixar de rir. Já o cigarrinho de palha pode até ser substituido por um outro vício inofensivo qq, como ter um blog...
Selinho pra ti no blogueeeee !
bjuu
É preciso sorrir para seguir vivendo, mesmo que o riso contenha lágrimas.
Abraço grandão por Olívia.
Beijo no coração querida
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