
Aqui, ele ia começar a fazer o acabamaneto do meu fogão de lenha, que foi mostrado no post anterior. Ainda estava no osso aqui.
Sr Pedro tem problema de audição. E o Érickinho me perguntou esses dias, se ele fez algum curso de leitura labial, para que nos entenda.
Isso me fez lembrar do meu relacionamento com meu pai.
Ele ficou totalmente surdo nos últimos anos de vida. Não foi sempre surdo.
Eu tinha um excelente relacionamento com ele, era o xodó do papai, a filhinha caçula.
Na hora da comunicação, nem todos, ele entendia bem. Nós de casa, era mais fácil, mas, claro, que alguns entendia melhor. Eu e minha mãe, por exemplo.
Não entendo nada de comunicação com pessoas que tem alguma deficiência, o que sei, é apenas como fazíamos com ele.
Com meu pai, tínhamos que falar em tom normal, nada de gritar, e pausadamente, assim ele conseguia entender os nossos lábios.
Me lembro, que na minha juventude, já trabalhava e ganhava meu próprio dinheiro, mas ele sempre acabava antes do final do mês, então pedia sempre algum para meu pai, ele tinha uma aposentadoria miserável, mas sabia dividir bem para que durasse o mes todo. Isso ele sempre entendia rapidamente, rindo (ele ria muito), sempre dizia não, para logo, logo acabar cedendo.
Não sabia dizer não prá mim.
Não sei, nunca ninguém nos explicou o motivo desta surdez. O que sabemos, que minha mãe contava, é que depois de um forte resfriado, que ele apanhou numa noite de caça e de muita chuva, (adorava caçar embrenhado no mato por uma noite toda), começou a reclamar que estava com o ouvido entupido, e isso foi aumentando, até que perdeu a audição de um dos ouvidos, e lentamente foi perdendo do outro, até a surdez total.
Quando criança me lembro que ele usava um aparelhinho daqueles que parecia um rádio de pilha, tinha mesmo uma peça que levava no bolso da camisa, com uso de pilhas, um fio que levava o aparelho ao ouvido.
Durante alguns anos isso ajudou, mas depois passou a não ter mais nenhum efeito.
O que sei, e gosto de me lembrar, é que conseguíamos viver muito bem com ele.
Todo amor que tínhamos com ele, o fez uma pessoa feliz, apesar de sua pequena deficiência.
Isso não mudava nada, não o fazia uma pessoa diferente.
Ele era o meu pai, surdo, mas meu pai, e como eu o amava.
Sr Pedro, esses dias, fez minha memória se avivar, e viajar, e recordar, e sentir muitas saudades.