sexta-feira, 4 de março de 2011

É ASSIM, NETOS E AVÓS.

Achei tão lindo que simplesmente copiei e colei.

Tirei daqui:

Texto de Lélia Almeida.




A relação entre a minha mãe e o meu filho, confesso, beira a indecência. Este vínculo que surgiu há doze anos, com o nascimento dele, se fortaleceu e hoje, virou isso, uma relação indecente. Ele nasceu enquanto eu fazia o curso de mestrado, uma mãe estressadíssima em meio a tese, mamadeiras, disciplinas e monografias quase sempre atrasadas e a torcida de muitas pessoas que diziam, você não vai conseguir conciliar as duas coisas.

E eu pensava, ele é muito pequeno pra ser tão poderoso, vou conseguir, sim. Mas, fundamentalmente consegui porque esta superavó esteve sempre ali, presente, incansável, com ele. Não era por mim e nem pelo mestrado, era por ele e por ela, que já começavam, desde então, esta relação incomum.

Quando decidi que ele iria para a creche, alguns dias por semana e somente meio turno, para que nós duas, mãe e avó, pudéssemos atender nossos trabalhos e vidas com mais mobilidade, ela cortou relações comigo para sempre e me disse que eu era um monstro.

Voltou dois dias depois, morta de saudades do neto e magoadíssima comigo, para sempre. No aniversário de dois anos, ela confeccionou uma roupa de Batmam para ele, indumentária esta que ele usou sistematicamente dos dois aos três anos, convencido da sua nova identidade, e quando ela ia levá-lo na creche, eles subiam no ônibus e ele dizia em tom autoritário, vamos batgirl, venha. E lá iam os dois, batmam neto e batgirl avó, em mais uma aventura.

Caxumba, catapora, dentes que nascem, dentes que caem, primeiras palavras, a testa aberta, pontos, ela firme, ele também, neste amor indecente, que se aprimora ano após a ano da existência dos dois.

Assim foram realizadas inúmeras viagens juntos, passeios, livros lidos, filmes vistos.

Foi ela quem o iniciou em filmes de adultos ainda em tenra idade quando o levou pra ver Independence Day, fascinada ela por aquela nave imensa que atravessava os céus e alimentava a nossa imaginação paranóide. Ele deixou para trás pra sempre as pequenas sereias, belas e feras, e entrou definitivamente no mundo das naves e viagens e do cinema.

Entre este ano e o ano passado mataram de uma sentada todos os Harry Potter e Senhor dos Anéis, filmes e livros, numa corrida de quem terminava primeiro para adiantar os episódios um ao outro.

Ouvem músicas juntos, se criticam, compram CDs e fazem o que avós e netos fazem há muitos séculos juntos, nada, se mimam e se adoram.

Ela, que foi uma mãe superdisciplinada virada em uma avó que levanta dos seus afazeres a qualquer hora do dia e da noite pra fazer de pipocas doces a batatas fritas.

Ele, aquele filho meio-disciplinado virado em sultão usufruindo dos mimos avoengos.

Eu, é claro, estou sumariamente excluída do romance e dos programas, aceita eventualmente pra não ficar chato. Porque afinal de contas a minha única função na vida foi essa e não outra: ser a filha dela e a mãe dele para que assim eles pudessem ser isso, a avó e neto amantíssimos. Isto feito, posso partir.

Mas é assim mesmo, quando ela está por perto, ele consegue brigar melhor comigo, e embora ela sempre concorde com ele, me defende também, como corresponde a uma mãe.

Vamos tecendo nossas vidas e nossos papéis, os que nos cabem na malha da ancestralidade. Eles, em idílio e festa, eu, encantada, de fora.

Porque mãe é extrato de tomate concentrado: escova os dentes, faz os temas, arruma o quarto, guri. E vó é extrato de tomate diluído e sem pressão, dá sabor à pizza, ao cachorro quente, à farra grossa.

Porque com esta avó tudo é bom, horas de temas escolares feitos em conjunto pelo telefone, ambos competindo e se exibindo de quem sabe mais, sabe melhor, descobre mais coisas.

E ela esclarece, é que eu trato o meu neto como gente, não como se fosse uma criança idiota. Ou, acontece que ele é especial, não adianta. E barbaridades como estas, por aí afora.

Sábado de noite depois do cinema, do McDonald's, do CD novo, etc., programas eventuais e saboreadíssimos pelo neto de avó professora. Na frente da TV, os dois cansados da tarde movimentada. Ela cochila com os óculos caídos no nariz e o jornal no colo, ele recostado nela e o gesto que denuncia o menino, o menino que ele ainda é, o menino que ele foi e cresceu ao pé da árvore sólida, sobranceira: belisca suavemente o cotovelo dela, a pele que sobra, enrugada, e adormece como quando era um pequeno batman.

Eu entendo o que ela diz, "neto é filho com açúcar" e aceito o papel que me cabe nesta relação indecente: elos de uma corrente, a mão dela enrugada e envelhecida, a minha mão entre as deles, a dele, firme e pequena ainda.

E o entendimento definitivo da eternidade, de que a gente não morre, de que a gente fica, se perpetua, que a imortalidade é isso: energia, calor, vínculo, amor.

19 comentários:

Dona Sra. Urtigão disse...

Adorei!
Se minha filha não morasse tão longe esta quase seria minha historia

Luz disse...

Olá Aninha, que prazer voltar a vê-la…
Mas hoje não vou falar grande coisa, embora tenha muitas “histórias” para contar, né!
Faz anos que não utilizava o Blogger, tive que me atualizar… passei horas nisto, tá tudo diferente.
Saudades, é a palavra mais sincera que tenho de você.
Beijão e um GRANDE ABRAÇO.
Até já!!!

Rosamaria disse...

Aninha, que coisa mais linda este texto! Acho que Deus coloca no mundo esses seres especiais que são os netos,para dar mais vida a nossa vida. (não tem crase, hehehe)
Bjão, cosquirídia, saudade de ti.

Magui disse...

Bela história. Eu, sinceramente, acho que está faltando mais uma criança nesta relação porque filho único é assim , tudo apara ele, E, fica insuportável.

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Tudo bem com vocês?

Que lindo texto Aninha. Que bom que vc o trouxe para cá para dividir com os teus amigos.

Uma linda semana prá vcs.

Bjao

Faby Santos disse...

Ola flor, td bem?

Que bom que seus sobrinhos estão bem!!!

Eu vi na reportagem que o japão estava mandando de volta pro Brasil os imugrantes, pois muitos perderam seus empregos, você sabe se é verdade?... porque jornal você sabe nem sempre é possível confiar, apesar que hoje um rapaz aqui de Vitória/ES, chegou de lá e deu entrevista, mas ele é estudante.

Muito triste o que aconteceu lá, até eu fiquei aflita!!!

Super Beijo e que Deus proteja a familia!!!

Anônimo disse...

Oi, Aninha,

estive fora no carnaval, e só agora pude ler esse texto incrível, que você fez muito bem em postar.
Beijos pra você, pro Valter, e pra toda a família.
E agradeço pela fidelidade dos dois em minhas crônicas do Primeiro Programa. Vocês me emocionam, de verdade.

Carinho da amiga
Vivina

Faby Santos disse...

Lindo, o lugar é maravilhoso, eu nunca imaginaria que era tão bonito a parte onde desboca o rio no mar, é uma mistura de cor, a foto na verdade não mostra, mas é de mais, da próxima eu filmo :) bjsss

Luma Rosa disse...

Aninha, deve ser um sonho ser avó!! Eu ainda chego lá! Vontade não falta!! :=)) Bom fim de semana! Beijus,

Francy disse...

Penso que essa estória se trata de Erick e Aninha, neto e avó, acertei??
mas que não seja a estória é linda..
abs,

denise rangel disse...

A Princesinha está dormindo em minha cama, agora, e fiquei pensando no que o texto fala.Esta ideia de que a gente não morre, se perpetua, e que a imortalidade é esta energia e amor, soaram forte dentro de mim.
Obrigada por compartilhar, minha linda!
beijo, menina

Anunciação disse...

Primeiramente obrigada por compartilhar tão linda história.Vim aqui pra desejar a você e todas as suas amigas,felizes dias de mães.

Celia disse...

Adorei ler sobre essa relacao. Realmente acredito que ser avo, é muito bom. Bj

O meu pensamento viaja disse...

Muito ternurento, mas também muito verdadeiro este texto.
Acima de tudo é um texto lindo que retrata uma relação de entrega, sem "mas", total.
A definição de que avó é mãe com açúcar, é perfeita.
Adorei o seu blog.
Vou ser sua seguidora.
Convido-a a que me visite e se gostar, já sabe, instale-se que a casa é sua.
Beijos de Portugal,
Nina

O meu pensamento viaja disse...

Aninha, e eu quero voltar ao Brasil, onde vou todos os anos, pois amo o seu país.
Beijos, Nina

P.S. Você não tem galeria de seguidores?
Gostava de me inscrever como sua seguidora.

O meu pensamento viaja disse...

Aninha, obrigada pela sua visita.
Sabe, um dos sonhos da minha vida era possuir uma máquina de tricot, mas é impossível, porque, estupidamente, deixaram de ser fabricadas... só existem as industriais.
Ando atenta, tentando comprar uma em segunda mão.
Beijos e bons tricots
Nina

Francy disse...

Amiga,
Obrigada pelas visitas...
Leiden realmente é um lugar muito bom e calmo para se morar...
Quando venho para cá estou entrando de férias das doideiras do Brasil...
abs,

Tina disse...

Oi Aninha!

Lindo texto e muito verdadeiro: ser avó é bem assim ! Saudade sem tamanho dos meus netinhos lindos que moram longe... :(

beijo grande querida, bom fim de semana !

Francy disse...

Oi Amiga,
Vim te procurar e encontrei novamente esse belo texto.
abs,