domingo, 16 de agosto de 2009

BONECA DE LOUÇA.

Imagem daqui:


Isso aqui é só um aperitivo:

Quando seus dedinhos grossos conseguem finalmente erguer a tampa da caixa, quase sem respirar grita É uma menina! Ganhei de presente uma menina! E se desconcerta, porque os adultos em volta riem, e detesta que riam dela. Como assim boneca, se as suas bonecas são pequenas e moles, de pano, só a cara têm de louça, seus grandes olhos pintados não se mexem, mas esta... Ah, esta dorme e acorda, acorda e dorme, esta tem cabelos cacheados de fada — a menina sente incontrolável arrepio de satisfação, ao tocar os cabelos da boneca —, esta mexe os braços pra cima e pra baixo, veja! O tio lhe mostra que a boneca... anda como eu! Usa batom e rouge e veste um vestido cor de rosa de festa e um chapéu de festa e sapatos e meias rendadas de festa tão lindos como eu nunca tive nem nunca vou ter na vida.
Texto completo aqui:


Janaína escreve assim, lindamente. Usa as palavras com maestria. Faz das palavras, um conjunto de coisas que nos dá arrepios.
É a competência para escrever.
Não tenho esse dom, mas o texto dela me lembrou a minha história.
Também tive uma boneca de louça. A única boneca que ganhei de minha mãe, na minha vida. Nunca, antes, nem depois ganhei outra.
Minha mãe viajou do interior de S Paulo, para Aparecida do Norte, como fazia, todos os anos.
Neste ano, eu fiquei, e como prêmio, ganhei uma boneca. Ela era linda, quase do meu tamanho, e todinha de louça.
Ninguém do meu convívio, tinha uma boneca tão grande e tão bonita.
Era um sonho, sim, um sonho, na verdade nunca sonhado.
Jamais imaginei ter uma boneca como aquela.
Tinha uma prima, que era um pouco minha irmã.
Tanto lá na casa dela, como na minha, brincávamos, horas e horas.
E eu sempre agarradinha com minha boneca.
Um dia, deixei a boneca lá na casa dela, e alguns dias depois, quando voltei, veio a notícia.
Minha tia, disse assim que cheguei, que minha boneca, guardada em cima do guarda roupas, tinha se "espatifado" no chão.
Senti um grande arrepio.
Não tinha conserto, ela era de louça, e não tinha remendo no mundo que me devolvesse a boneca tão sonhada.
Tia Luzia, foi além.
Me disse:
Ninguém aqui teve "curpa". A "curpa" foi sua mesmo. Quem mandou você deixar aqui, porque não levou para sua casa?
E eu fiquei ali, quieta, engolindo em seco, a primeira grande perda da minha vida.
Esses dias, fazendo uma das minhas visitas lá na Janaína, me deparei com um post lindo, que parecia minha própria história.
Não sei escrever como ela, mas tive de volta, todas as lembranças, e vivi de novo, todos os momentos. Os de alegria, em ter minha boneca, o momento que ganhei meu melhor e único presente, e também a dor da perda.
Quem me conhece, já sabe que não me lamento de nada que não tive, e nada disso, me faz mal lembrar, pelo contrário, acho que toda minha vida, tudo que já vivi, só me serviram de estímulo para valorizar aquilo que posso ter.
Apenas contei, porque o post dela aqui, é lindo e vale a pena ser lido na íntegra.
Vai .

7 comentários:

Janaina Amado disse...

Aninha querida,
Muitíssimo obrigada pelas referências ao meu post e, principalmente, pela sua história linda. Linda e triste. Mas que tia, hein? Uma assim, ninguém precisava.
PS - Fiz há pouco uma referencia a você e a Valter no blog. Beeeijos!

Cris disse...

Aninha, querida,

A blusa ficou linda!!! Parece que vc tirou as medidas ao vivo! Ainda não a usei. Vou iniciar as aulas amanhã..com ela. Depois te mando uma foto com a produção!Obrigada de verdade pelo teu talento.

Quanto ao texto. Me tocou. me lembro quantas e quantas vezes apontaram o dedo para minha culpa...Não tirei de letra como você. Muita coisa teve que ser trabalhada!!!Êta adultos insensíveis!

Beijão, linda.

Rosamaria disse...

Ah, as bonecas! Eu tinha uma, chamada Jane, minha primeira boneca de louça. Linda, delicada, mas caiu o braço e uma tia(muito amada), levou pra Porto Alegre, onde ela morava, pra mandar arrumar. Nunca mais soube dela. Aí meus pais viajaram e trouxeram outra, de tanto que eu reclamava a falta da Jane. Esta Jane ainda estava comigo quando eu já tinha os dois filhos. Estava dentro de uma mala, num armário embutido na garagem, até que um problema de encanamento molhou tudo e estragou a boneca que eu guardava com tanto carinho pra filha que chegou depois.

Vou lá na Janaína ver o texto completo.

Bjim, cosquirídia!

Luci Lacey disse...

Aninha

Li no blog da Janaina, achei lindo.

Voltei a infancia e me vi com a Rosinha nos bracos, uma boneca de pano, nao trocava a ela, por nenhuma mais nova e mais bonita.

A Janaina, escreve muito bem ... abre nosso bau da saudade.

Beijinhos e boa semana.

Sonho Meu disse...

A minha unica boneca foi uma de papier macheé(nao sei se é assim que se escreve).
Brincando na chuva so restou jornais velhos e a tinta da boneca, tudo dissolvido. Historinha triste, mas que enrriqueceu o meu passado.
bjs

Aninha Pontes disse...

Jana querida:
Seu post vae uma dúzia de refer~encias e posts. É muito bom.
Quanto a minha tia, ela não era ruim não, acho que falou aquilo, apenas para sedefender, uma vez que a boneca tinha se quebrado na casa dela.
Gostava muito dela. Já partiu.
Um beijo querida.

Cris linda:
Que bom que a blusa ficou boa, e que você gostou.
Menina, sempre tive sorte, já tirei muita coisa de letra, passei por cima como um trator.
Mas foi uma boa lembrança que a Janaína me proporcionou.
Beijinhos.

Rosinha:
É tão gostoso quando um fato ou um detalhe mexe com nossas lembranças né?
Já vi que muita gente teve boneca de louça, e cada um com sua história.
Beijos.

Luci querida:
Este é um detalhe verdadeiro, nós amávamos o que tínhamos. Podia ser a coisa mais simples, o brinquedo mais velho e destruído, que não deixávamos por nada.
Talvez porque tivéssemos tão pouco né?
Mas a história dela linda, despertou mutas lembranças.
Beijinhos.

Elena:
Pois é, me lembro dessas bonecas de papel, elas derretiam com muta facilidade. Chamávamos de papelão, mas era papel macheé mesmo.
O importante são as boas lembranças que temos de nosso tempo e de nossas coisas.
Um beijo

dade amorim disse...

Sempre vale a pena ler o que a Janaína escreve, Aninha. Beijo pra você.