sábado, 11 de outubro de 2008

ESTAVA NA HORA.

No elenco de "Todo Mundo Tem Problemas Sexuais", de Domingos de Oliveira, o ator Pedro Cardoso aproveitou a primeira sessão do filme, anteontem, no Festival do Rio, para fazer um discurso antinudez no cinema e na TV.


Ayrton Vignola/Folha Imagem





Ator Pedro Cardoso não gostou da cena de nudez feita por sua namorada e fez manifesto

A pedido de Cardoso, o filme não contém cenas de nudez, embora tenha o sexo como tema. "Minha tese: a nudez impede a comédia e o próprio ato de representar. Quando estou nu, sou sempre eu a estar nu, e nunca o personagem."

O ator disse que, nas mãos das "empresas que exploram a comunicação em massa", a nudez, que fora "uma conquista contra excessos da repressão à vida sexual", tornou-se "apenas um modo de atrair público".

Apontou "conivência de escritores e diretores --alguns deles, em algum momento, verdadeiros artistas; outros, nunca!".

Cardoso disse que "é sobre as atrizes que a opressão da pornografia é exercida com maior violência". E afirmou que "é freqüente que cineastas de primeiro filme exibam a amigos, em sessões privê, cenas ousadas que conseguiram arrancar de determinada atriz" e indagou: "Até quando, nós, atores, atenderemos ao voyeurismo e a disfunção sexual de diretores e roteiristas, que nos impingem essas cenas macabras?".

Cardoso citou ter feito "algumas pequenas cenas de nudez parcial" e disse que sentiu-se "muito mal" com a experiência. "Tirar a roupa não é uma exigência do ofício de ator, e sim da indústria da pornografia." Ele afirmou ambicionar o dia "em que não teremos medo do YouTube e das sessões nostalgia do Canal Brasil".

O Canal Brasil exibe atualmente a pornochanchada "Os Bons Tempos Voltaram: Vamos Gozar Outra Vez" (1985), de Ivan Cardoso e John Herbert, com Cardoso no elenco.

Ao final do manifesto, o ator disse que o fato de namorar uma atriz acentuou sua preocupação com o tema, por ver a mulher que ama "ter que diariamente se defender no trabalho contra a pornografia reinante".


Pois é, enfim, alguém tem coragem de dizer não, à uma situação de imposições descabidas, que no final das contas, não dão nenhuma satisfação a quem é obrigado a fazer.

Durante muito tempo, o cinema nacional era conhecido apenas pelas pornochanchadas ridículas, baratas e sem nenhum valor.

Hoje já temos bons filmes, feitos com muito talento e que já começa a despontar pelo seu valor.

Mas ainda há os diretores que impõe, e insistem em colocar a nudez, tanto nas telinhas como nos telões.

Muitas vezes, nos envergonhamos em assistir televisão ao lado de nossas crianças, tamanha é a apelação sexual.

Querem audiência a qualquer preço. E, claro, que do lado de cá, sempre vai ter um idiota, que não está preocupado com conteúdo, e sim, com a masturbação física e mental provocada.

A entrevista completa está aqui:

12 comentários:

Janaina Amado disse...

Aninha, eu até concordo que haja excesso de apelo sexual no nosso cinema hoje, mas não gosto muito de cerceamentos à arte, àquela de que não gosto. Se a gente não gosta, não vê.Ao menos, é minha opinião.
Passei por aqui foi pra te mandar um beijo e desejar um ótimo final de semana!

Lou H. Mello disse...

O Cardoso ganhou mais alguns pontos comigo, com essa entrevista. A arte cinematográfica, também é arte quando estimula a imaginação e confia nela. Deixa de ser, quando opta pelo explícito e torna-se pornoarte.

Tina disse...

Oi Aninha!

O problema é que ficamos "marcados" pelas pornochanchadas e pelos filmes de baixa qualidade. Mas a coisa está mudando, felizmente.

beijos querida e bom domingo,

Cris disse...

Pedro Cardoso não deixa de ter razão, é preciso ter suavidade e elegância para tratar a nudez na arte.Bom você ter trazido esse assunto pra cá. Para refletirmos.

Beijão e ótima semana pra você, linda.

Luma Rosa disse...

Profissionais sérios que entendem a diferença entre o 'nu artistico' e aquele que é simplesmente para chamar espectadores, os 'apelativos'. Esta manifestação é simplesmente contra a prostituição artistica. Não estou exagerando Aninha, veja o nível profissional das beldades que aparecem nas telas. Não somente atrizes que não representam, mas de cantoras que não cantam e por aí vai. Daí, como ficam os profissionais sérios? Boa semana! Beijus

Carlos Emerson Junior disse...

Aliás, Aninha, foi por essas e outras que quase não assisto filme brasileiro. Sacanagem, palavrão e violência. E tudo isso com o dinheiro do contribuinte, seja pela extinta Embrafilmes ou agora, via incentivos fiscais.
O que era engraçado tem uns quarenta anos atrás, continuou sendo repetido ano após ano, à exaustão.
Luma falou sobre a indústria da prostituição. É por aí sim. Veja só como diversas "atrizes" e "cantoras" estrelam filmes pornográficos, com a maior facilidade...
Acho que nisso todos perdem, atores, o cinema nacional e o público.
Um beijão e ótima semana.

. fina flor . disse...

eu li na Folha, Aninha e achei o maior barato :o)

beijos e boa semana, flor

MM.

Lord Broken Pottery disse...

Aninha,
Desculpe-me discordar. Na minha opinião o Pedro Cardoso fez um papel ridículo, e perdeu a oportunidade de ficar calado. Criticar a nudez nessa altura do campeonato é um retrocesso. Quem é ele para cercear o processo criativo? De qualquer forma, é apenas o que eu penso.

Anônimo disse...

Ana, dizem que até um relógio parado fica certo duas vezes por dia. No caso do Pedro Cardoso (não conheço) ele falou algumas coisas certas. Mas por que não reclamou antes? Só porque a atual namorada dele vai ficar envergonhada?
Em princípio não gosto do cinema brasileiro. E não acho que seja problema de dinheiro não. É a qualidade mesmo.
Como você disse, e isso não acontece somente com os filmes ou novelas brasileiras, muitas vezes ficamos constrangidos com certas cenas que apresentam nas telinhas e telonas. Tiram todo o romantismo da conquista. O mocinho encontra pela primeira vez com a mocinha que está olhando um vitrine. Conversam, sorriem, comem pipocas, passeiam pelo parque e logo em seguida: sexo.
Desculpe eu estar falando isso, mas sou da antiga. Não do tempo do "ficar".
Um beijo.

dade amorim disse...

Sinceramente, acho que o grande problema é a confusão entre arte e apelação. E a indignação de Cardoso faz sentido no último caso (infelizmente, o mais freqüente). Em grande número de filmes, peças teatrais ou de propagandas a nudez teria sido dispensável. Mas é preciso não confundir esse fato com uma exigência puritana ou radical, que condena sem crítica. Em alguns contextos a nudez é um recurso válido e necessário à expressão artística. Além do que, o corpo nu não deve fazer medo, e muito menos servir de pasto para o público.

Beijoca, Aninha.

Ví Leardi disse...

Aninha...acho que há uma grande diferença entre o bom gosto de uma cena de sexo e nudez e o desclabro que presenciamos em horários impróprios na televisão ..No cinema ainda podemos selecionar o que vemos e mais ou menos já sabemos o que podemos encontrar...na televisão em vez ao seguir uma novela ou minisérie que te agrade vc está sujeita a cenas fora de contexto...crianças de todas as idades assistem hoje programas que deveriam ser destinados só aos adultos...mas isto é um mal dos nossos tempos.Agora cenas belíssimas podem ser feitas como a
de amor entre Abelardo e Heloisa em filme do mesmo nome que retrata a vida deste casal da idade média cujo amor foi cantado em prosa e verso...seus túmulos em Paris são dos mais visitados no famoso cemitério da cidade.Esta cena é fortíssima e no entanto das mais belas que já vi.Tudo é tão relativo não é verdade?Mas entendo a posição do ator...mas se negar a fazer uma cena que fazia parte de um roteiro já aprovado deve ser bem difícil e com certeza prejudicial a carreira .Bom cada caso é um caso...òtima postagem...
saudades e grande beijo.

Anônimo disse...

Ana, complementando o meu comentário: é o mesmo que posar para revistas masculinas. Admiro uma estrela quando esta abre o jogo e diz logo o motivo por que posa: dinheiro. E admitem que o PHOTOSHOP ajudou muito... Outras dizem que posam por amor à arte, que o fotógrafo é seu amigo, que é um profissional formidável etc etc.
Um beijo.