sábado, 3 de maio de 2008

UM TEXTO PARA LER OU RELER.

Muitos de vocês, amigos comuns, meus e do bem, já conhecem os textos dele, a linha de escrita, que ele sempre utilizou.
Eu, particularmente, gosto da maneira como ele escreve.
Alguns de vocês, hão de reconhecer este texto, outros, não tiveram oportunidade de ler, por não frequentar o antigo blog dele.
Deixo prá vocês, um texto escrito por ele, entre tantos outros, que considero, bons.

Esta postagem foi publicada em perplexoinside às 19:24:22 de 19/9/2007
LAURITA



Ela anda desconfiada. O Benjamin anda diferente. Sempre cansado, as
olheiras cada dia mais marcantes no rosto gordo. Disposição, nenhuma.
Nem o sexo, sempre tão bom, arrebatador e excitante, por que meio
escondido, meio consentido, nem ele é o mesmo.
Benjamin alega que é o diabetes, sempre elevado. Mas não deixa a
pinguinha de final de tarde e nem a caixa de cerveja que consome no
final de semana, junto com o churrasco costumeiro.
O marido, o Claudionor andou meio arredio esses dias. Queria por que
queria voltar para o Paraná. Diz que depois de dez anos, já enjoou da
vida na chácara, distante da cidade, coisa e tal. Ela, não quis nem
continuar a conversa. Alegou a escola das crianças, já está acostumada
com o lugar e de mais a mais, completou, patrão igual ao Benjamin e a
Do Carmo não se encontra fácil não. Claudionor engoliu em seco. Foi
para a cozinha pequena, lá de fora, caçou um café, ajeitou as brasas
no fogão de lenha e esquentou uma caneca. Sorveu em goles pequenos.
Saiu andando devagar, foi para o boteco do Luciano. Iria beber umas
pingas. O serviço, pouco, já acabara naquele dia. O patrão só vem na
sexta-feira mesmo, ainda é terça, dá para aprontar o que falta amanhã.
Laurita mexe nas panelas. O pensamento voa. Está na espera. Na
sexta-feira o Benjamin vem. Não vai querer recusa, nem desculpas. Vai
querer sua parte em sexo. Está carente e necessitada. Claudionor não
comparece e nem parece muito preocupado. Já nem se importa muito em
dividir. Tem outras coisas na cabeça. Não é o mesmo homem que ela
conheceu em Porto União. Naquele tempo ele jamais aceitaria um par de
chifres.
Da última vez que o patrão veio, não teve como. A Do Carmo veio,
ficaram três dias para aproveitar o feriadão. A casa cheia, muitos
amigos do patrão. Uma loucura. Churrasco, cerveja e forró. Uma
mulherada assanhada. A Do Carmo de olho no seu homem. Ela, Laurita
ficou com a sobra. Conseguiu agarrar o Benjamin lá no fundo do cercado
quando o Claudionor foi buscar o terçado para limpar um capoeirão que
o Benjamin queria transformar em horta. Sabia que não teria outra
oportunidade, foi ali mesmo.
Encostou-o no pontalete do barraquinho dos arreios, levantou a saia
rodada e fez por que fez. Conseguiu uma ereção. Tirou sua casquinha. E
foi só. Logo ouviu conversa, se arrumaram. O rosto ainda afogueado,
coxas molhadas, ajeitou a saia, saiu de fininho, rebolando,
satisfeita.
Maria do Carmo andou pegando pesado com o Beja. Numa de suas últimas
negaceadas, disse que estava cansado, reclamou que ela não lhe dava
sossego, que o queria todos os dias, que se aquietasse.
Ela, decidida devolveu: "Voce preste atenção, homem. Se eu te pegar
com outra, não vai ter prá ninguém. Voce sabe que não sou de prometer
e não cumprir. Mas, não tenha dúvidas. Não pague para ver. No mesmo
dia e não será depois, não. Pego o teu melhor amigo, trago aqui para
casa e dou prá ele na tua cama. E faço questão de ser num horário que
você esteja para chegar. Quero que você tenha o gosto de ver, o teu
melhor amigo se fartando aqui."
Benjamin desconversou, gaguejou e tentou virar de lado. Maria do Carmo
não deixou. Foi lá para baixo e começou a tarefa. Conseguiu reanimar e
obteve o que queria. Naquela dia, Benjamin se superou. Ela apaziguada,
adormeceu logo. Ele, olhos abertos, insone ficou pensando. Bobagem,
ela está blefando. Não teria coragem. Tirou a perna da mulher que
descansava sobre a sua e devagar foi até a cozinha. A sede constante
lhe atormentava. Maldito diabetes.
Abriu a porta da sala que dava para a varanda e acendeu um cigarro.
Enquanto tragava lentamente sorvendo a fumaça, a cabeça doía. Não, ela
não teria coragem. Puro blefe.
Lembrou-se que no dia seguinte, quarta- feira precisava passar na casa
da Edilene, estava em falta com ela e precisava deixar o dinheiro da
semana. Diacho de vida, pensou.
Jogou o toco de cigarro na rua. Entrou e fechou a porta.
Deitou-se vagarosamente e adormeceu logo. Acordou às cinco e meia com
o despertador. A impressão que tinha é que não dormira nada. Puxou o
lençol e cobriu o corpo da esposa, as pernas nuas como o resto do
corpo, teimavam em procurá-lo. Saiu, rapidinho.


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valter ferraz


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